Atividade Física, Ansiedade e Saúde Mental: um olhar da psicologia sobre bem-estar e autorregulação

Quantas vezes você escutou que a atividade física é importante para a saúde?
Muitas pessoas sabem que praticar exercícios faz bem para o corpo , mas o que pouca gente percebe é que a atividade física também é uma poderosa aliada no cuidado da saúde mental. Neste artigo, o psicólogo e diretor clínico da Clínica Aelius, José Magnos, explora como a prática regular de atividades físicas pode atuar como recurso terapêutico no enfrentamento da ansiedade, no alívio das tensões do cotidiano e na promoção do bem-estar emocional.
A partir dos princípios da Gestalt-terapia , abordagem psicológica criada por Frederick Perls , o texto propõe uma reflexão sobre a forma como o organismo responde às pressões do ambiente e como o desequilíbrio causado pela ansiedade pode ser amenizado pela mobilização física do corpo.
Segundo a psicologia, ansiedade não é apenas um estado emocional, mas uma reação fisiológica que gera energia acumulada no organismo. Quando essa energia não encontra vias naturais de escoamento, ela se transforma em inquietação, dores musculares, insônia e diversos outros sintomas. A atividade física, nesse contexto, ajuda o corpo a se reorganizar, liberando substâncias que equilibram os sistemas internos e resgatam o contato com o momento presente , um dos pilares do bem-estar psíquico.
Além disso, nosso diretor compartilha experiências pessoais com o ciclismo, mostrando como o exercício pode ser um canal de reconexão com o próprio corpo, rompendo padrões de estresse antecipatório, típico de quem vive constantemente em estado de alerta.
O artigo também abre espaço para destacar outras formas de autorregulação emocional, como práticas artísticas, meditação, espiritualidade e mindfulness , desde que proporcionem três elementos essenciais: contato com o próprio corpo, sensação de relaxamento e sentimento de satisfação.
Se você busca compreender como psicologia e atividade física se conectam na prática clínica e no dia a dia de quem vive com ansiedade, vale a pena conferir este conteúdo completo. Uma leitura enriquecedora para pacientes, profissionais e para quem deseja melhorar sua saúde emocional com práticas integrativas.
Depois agende um atendimento na Clínica Aelius , e descubra como podemos integrar a visão da psicologia, nutrição e fonoaudiologia para promover um bem-estar abrangente, utilizando a atividade física como uma ferramenta vital para o equilíbrio emocional e a saúde mental de seus pacientes em Brasília.
Artigo Completo:
Se perguntar a uma pessoa adulta quantas vezes ela ouviu de médicos e de outros profissionais de saúde, além de tantas outras pessoas, que a atividade física é importante para a saúde, certamente ela não saberá especificar quantas vezes já ouviu essa expressão. Os benefícios da atividade física se justificam por diversas razões: indicações nutricionais, condicionamento físico e aeróbico, bem-estar mental, entre outros. Por parte da psicologia, também se indica a atividade física como um recurso terapêutico que auxilia nos acompanhamentos psicoterapêuticos. Quando indico atividade física, geralmente foco em dois pontos. Primeiro, que deve ser algo que traga satisfação. É importante que a pessoa goste da atividade que faz, para que ela não se torne estressante (a satisfação é base para o bem-estar que a atividade física pode proporcionar); e, segundo, a carência que o organismo tem de se reorganizar em meio às necessidades diárias que alteram o equilíbrio organísmico, resultado da interação organismo-meio.
Neste texto, procuro abordar a temática bem-estar a partir do entendimento psicológico e baseado no pensamento de Frederick Perls, o pai da Gestalt-terapia. Logo, para iniciarmos, vamos considerar dois pontos fundamentais na teoria de Perls. Primeiro, que o organismo funciona a partir de uma totalidade, que, para fins didáticos, podemos dividir em diversas dimensões que o compõem, como as dimensões biológica, psicológica, ambiental (o meio), entre outras, sendo excitadas constantemente através do contato com o meio, surgindo deste contato as necessidades do organismo.
Como dito anteriormente, é através do contato com o meio que surgem os rompimentos do equilíbrio do organismo, suas necessidades, levando-o às mais variadas reações, entre elas a reação de ansiedade. Neste texto, abordo a ansiedade como uma reação que rompe o equilíbrio do organismo e, consequentemente, com o seu bem-estar. Então, o que é a ansiedade? Para responder, retorno à teoria de Perls. Para ele, a ansiedade se constitui numa resposta frequente do organismo frente a uma situação de perigo, seja ela real ou imaginária. Ainda segundo o autor, compõem a ansiedade: a excitação, o suprimento inadequado de oxigênio e a inquietação. A excitação consiste no contato com algo que tira a pessoa do seu estado de equilíbrio, fazendo com que o organismo acelere seu funcionamento, aumentando a frequência cardíaca para suprir a sua aparente falta de oxigênio. Hoje, sabemos que este processo se dá pelo aumento de hormônios, açúcares, neurotransmissores e outras substâncias que são lançadas no organismo visando prepará-lo para reagir à situação de perigo e, assim, se proteger.
Você que está lendo este artigo deve estar se perguntando: o que tem a ver atividade física, ansiedade e bem-estar, e como essas experiências se juntam, do ponto de vista psicológico, neste artigo? Para responder a esta questão, vou recorrer aos princípios psicológicos de Perls e também a outros conhecimentos que já adquiri sobre o funcionamento do organismo humano. Conforme citado acima, e de acordo com Perls, o organismo, quando excitado, produz um volume de energia para atender às necessidades da excitação. Quando essa energia é consumida, o organismo volta ao seu estado de equilíbrio. Mas, quando toda ela ou parte dela permanece no organismo, gera-se a necessidade da ação de músculos antagonistas para conter os impulsos musculares gerados pela excitação. Como exemplo, podemos aplicar este entendimento às tensões cotidianas, no trabalho, no trânsito e outras diversas situações, nas quais a tensão gerada não pode ter sua energia aplicada por se tratarem de situações nas quais as condições, normas sociais e relacionais não permitem. Assim, os músculos antagonistas entram em ação para manter o autocontrole, resultando, portanto, na inquietação. Esta se manifesta por meio de diversos movimentos descoordenados, como agitar os braços, andar de um lado para o outro, debater-se na cama, entre outros. Logo, o excesso de excitação não permite que o organismo descanse, impedindo, assim, o seu retorno ao equilíbrio. Ainda como manifestação da tensão, outro resultado possível são as dores musculares, geradas pela ação dos músculos antagonistas visando manter o autocontrole.
Tendo esclarecido o teor da ansiedade enquanto reação do organismo a uma situação de perigo, real ou imaginário, como a atividade física funciona como um recurso terapêutico? A atividade física tem diversas funções, como já dito anteriormente, porém, aquela que nos interessa aqui é a que permite que o organismo restabeleça seu equilíbrio por meio da eliminação da energia que gera inquietação e da tensão muscular resultante da ação dos músculos antagonistas usados para manter o autocontrole. Assim, dois pontos são relevantes: a concentração na atividade e o relaxamento que a atividade física pode proporcionar pelo cansaço do corpo. Quanto ao primeiro, a atividade física proporciona um momento em que a pessoa mantém a atenção no presente. Por meio do foco no movimento que realiza e nas reações do corpo enquanto faz suas atividades, é possível que a pessoa saia do estado de fantasia e tenha a oportunidade de viver o momento presente. Não é novidade que muitas tensões vividas são frutos da antecipação de situações e de tentativas de resolvê-las no campo da imaginação, fazendo com que a pessoa antecipe as tensões e viva a ansiedade na ausência da situação real. A concentração no presente e o contato com o próprio organismo põem a pessoa mais próxima das necessidades reais do organismo, distanciando-a das fantasias e das antecipações de situações ansiogênicas. Me permita trazer uma experiência pessoal como exemplo. Sou um ciclista amador. Troquei as corridas que fazia na adolescência e início da juventude pelo pedal, depois que passei a ter muita irritação na pele associada à sensação de fobia toda vez que tentava correr.
No ciclismo eu não enfrentava esses problemas e pude voltar a fazer minhas atividades físicas, sem falar que gosto mais de pedalar do que de correr. Alguns detalhes desta atividade são importantes. O primeiro deles é o fato de que, durante o pedal, eu gosto de ouvir música, o que faz com que eu fique focado nela e desvie o pensamento de outras preocupações. Junto a isso, mantenho a atenção nas reações do meu organismo, como dores que possam surgir, movimentos das pernas enquanto pedalo e relaxamento muscular. Durante os primeiros 20 km ocorre o relaxamento dos músculos envolvidos nas tensões cotidianas, que geralmente não relaxam durante as atividades laborais. Ao longo do pedal, outros músculos que não são demandados diariamente entram em atividade, ampliando o metabolismo geral do corpo. O foco na respiração faz-me percebê-la, e a regularidade aumenta o contato com meu organismo, mantendo o foco nas suas necessidades básicas. Nestes primeiros quilômetros, é também o período em que as resistências psíquicas são superadas. Entre as resistências, a mais comum está na antecipação: ficar pensando no percurso, no tempo que leva, entre outras. Tem ainda o desânimo, a falta de disposição para sair da comodidade de casa e seus confortos. Estas duas são, provavelmente, as mais frequentes. Para vencer essas resistências, é necessário focar no próprio corpo e no momento presente, sem desviar o pensamento para outras coisas. Assim, mantenho minha atividade física dentro da capacidade do corpo, sem que as resistências interfiram e, acima de tudo, a atividade proporciona satisfação, que é outro componente que ajuda a vencê-las e também na reorganização do meu organismo.
Quanto ao relaxamento, sabemos que, quando fazemos atividade física, diversas substâncias são liberadas no corpo para atender às suas necessidades durante a sua realização. Estas mesmas substâncias também são liberadas em situações de intensa ansiedade presentes no cotidiano. Só que, diferente das situações de atividade física, na ansiedade ou estresse cotidiano as substâncias não são consumidas pelo organismo e permanecem circulando, gerando inquietação. Ao fazer atividade física, o organismo consome não só aquelas substâncias que são liberadas para sua realização como também as demais que são liberadas durante situações de ansiedade. Logo, a atividade física que gera cansaço físico é também fonte de relaxamento e bem-estar, uma vez que proporciona contato com o próprio corpo e com o momento presente, bem como pelo consumo daquelas substâncias que resultam em inquietação, liberadas no organismo durante as atividades cotidianas. Portanto, temos na atividade física um importante recurso terapêutico, que ajuda os profissionais da psicologia a tornarem suas intervenções mais efetivas, uma vez que auxiliam na autorregulação do organismo através dos mecanismos já citados.
O recurso terapêutico consiste na prática de atividades que auxiliam o organismo a se autorregular, usadas, segundo o autor citado, em situações de ansiedade antes que elas se cronifiquem e passem a fazer parte do funcionamento organísmico como respostas inconscientes. Outras atividades podem ser utilizadas como recursos terapêuticos, sabendo que elas devem proporcionar, ao menos, contato com o próprio organismo, relaxamento das tensões cotidianas e, por fim, que tenham um caráter de satisfação. Portanto, muitas atividades podem servir como recurso terapêutico. Entre elas estão a prática da meditação, da espiritualidade, da interação social com pessoas que proporcionam validação e diálogos respeitosos. Entram ainda nesta lista a prática do mindfulness e atividades diversas como práticas musicais e artísticas, contato com a natureza, entre tantas outras, desde que proporcionem ao menos as três condições já citadas.
Assim, de acordo com o exposto acima, podemos concluir que a prática da atividade física pode ser um importante recurso no acompanhamento psicológico, principalmente de quadros onde a ansiedade predomina. Através dos mecanismos citados, a atividade física contribui para a autorregulação organísmica, permitindo que o profissional de psicologia foque em fatores mais ligados à dinâmica psíquica do seu cliente, como limitações na fluidez e no contato com pessoas, com o mundo e consigo mesmo, temores e mecanismos de evitação. Mas, principalmente, que proporcione ao seu cliente a capacidade de ampliar sua criatividade , ou seu processo criativo , para que ele possa lidar com suas necessidades de forma ativa e criativa, de modo a supri-las, mantendo seu equilíbrio e bem-estar.
Artigo Escrito por: José Magnos Martins
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