Qual a diferença entre terapia e avaliação psicológica ?
Talvez esse questionamento não esteja entre suas prioridades, porém e cada vez mais importante cuidarmos de nossa saúde mental, por isso preparamos um artigo especial para você conhecer a diferença entre terapia ou atendimento seriado de avaliação psicológica.
Inicialmente, vale diferenciar a prática de acompanhamento psicoterapêutico ou atendimento seriado do processo de avaliação. Os dois procedimentos têm objetivos distintos. Geralmente, o segundo fornece informações para o primeiro. Por meio da avaliação identifica-se discrepâncias entre o desempenho esperado e os resultados obtidos pela pessoa avaliada, e a partir desses dados é possível planejar intervenções pautadas em dados mais concretos, ou seja, diante de queixas de dificuldades ou limitações usamos dos instrumentos e técnicas psicológicas para identificar quais as origens das queixas. Na avaliação, o objetivo é identificar e enquadrar o desempenho de uma pessoa em uma ou mais de uma habilidade. A avaliação é geralmente solicitada para elucidar uma queixa de limitação ou dificuldade para realizar atividade da rotina de vida diária, acadêmica e/ou laboral. A motivação para queixa vem da diferença entre a capacidade de realização que uma pessoa apresentava, comparada com a capacidade ou produção atual.Os instrumentos ou testes psicológicos são produzidos a partir de rigoroso trabalho de pesquisa junto ao grupo de referência e passam por tratamento estatístico para verificar sua validade e devida adequação às faixas etárias a que se destinam avaliar.
O tratamento estatístico também tem como objetivo agrupar os resultados, permitindo que os mesmos sejam distribuídos em faixas de classificação, se inferior, médio ou superior. Assim, os estudos e o tratamento estatísticos garantem que os testes de fato avaliam o que dizem avaliar, tanto no que tange ao construto quanto ao que tange a faixa etária. A utilização de instrumentos padronizados permite a comparação do desempenho de um indivíduo com o resultado do seu grupo de referência, Isso nos permite determinar o quanto ele se difere, para mais ou para menos, dentro do grupo. A análise permite também identificar se há diferença significativa entre as habilidades avaliadas de uma mesma pessoa.
A avaliação tem por objetivo auxiliar no diagnóstico de uma queixa e ajudar no planejamento de intervenções, que podem ser melhor planejadas se orientadas por dados que definem que habilidades estão abaixo do esperado.
A terapia por sua vez tem por objetivo realizar o acompanhamento continuado de uma pessoa que chega com queixas de dificuldades ou limitações nas relações interpessoais, na realização de tarefas de vida diária, acadêmicas e/ou laborais, mudanças de humor, alterações de comportamento, desânimo, tristeza entre outras. Aqui, o principal instrumento de trabalho é a fala. No entanto, a psicóloga (o) pode ou não usar outros recursos a depender de sua avaliação. Os recursos podem ser jogos e técnicas entre outros instrumentos que têm a função de potencializar a intervenção e chegar aos objetivos estabelecidos. O profissional trabalha com os comportamentos e queixas manifestadas durante os atendimentos. Na intervenção a participação da família pode ser de grande importância, principalmente quando o cliente é criança, realizando em casa as atividades sugeridas pelo profissional. Outra característica é que o atendimento seriado ou terapia não tem prazo para acabar, o encerramento depende do desenvolvimento do cliente, se os objetivos foram atingidos, se os comportamentos modificaram e se o cliente conseguiu desenvolver novas estratégias para lidar com as situações adversas com que precisa lidar. Vale ressaltar que essa ideia vem de um entendimento que ver a vida como processo, algo dinâmico, que implica mudanças constantes sendo que para algumas temos capacidades de lidar com facilidades e outras, ao contrário exigem, mais do que temos de estratégias e recursos para lidar, solucionar.
Existem também os atendimentos com objetivos pontuais, tais como estimulação neurocognitiva ou terapias de curta duração. Nesses casos, os atendimentos são planejados para atender uma demanda específica ou para treinar uma função cognitiva na qual o cliente apresenta déficits.
Quando o acompanhamento se caracteriza por necessidades que implicam em duração maior é possível identificar três fases do processo terapêutico.
A primeira fase corresponde ao período de construção da relação terapêutica, se há convergência entre cliente e o profissional. É uma fase marcada por queixas mais superficiais até que se estabeleça o nível de sintonia e acolhimento necessários para novos temas virem à tona.
Na segunda fase a relação já se estruturou, a sintonia entre terapeuta e cliente já aconteceu e os novos temas surgem. É o momento em que a terapia flui de forma mais espontânea e as ressignificações/mudanças se tornam possíveis, quando os temas mais significativos, mais consolidados e consequentemente de maior relevância e repercussão vêm à tona.
Já a terceira fase é marcada pelo convite à mudança. Nesse momento as questões, postas já foram exaustivamente abordadas, as disfuncionalidades e as possibilidades de mudanças foram identificadas. As ressignificações seguiram o curso decorrente da terapia e o cliente se vê na necessidade de usar de novas estratégias para lidar com os desafios da sua vida.
As mudanças acontecem na pessoa, mas a pessoa vive em um meio, logo, em algumas situações as mudanças pessoais implicam em rompimento com o meio. É o momento em que é avaliado as implicações das mudanças e algumas vezes as pessoas optam por não continuar e não concluírem o processo terapêutico.
Vale ressaltar que a terapia acontece a partir da queixa que o cliente traz. Logo, a conclusão do processo terapêutico não representa necessariamente mudanças em toda a extensão de vida da pessoa, apesar de que aquilo que foi proporcionado pela terapia em termos de aprendizagem ou desenvolvimento pessoal deve ser aplicado a outras áreas da vida do cliente, mas não ocorre de forma automática.
Por fim, a terapia é uma ferramenta de intervenção direta que busca auxiliar as pessoas que a procuram com qualquer motivo que seja. Já a avaliação é uma ferramenta que permite identificar possíveis limitações ou quadros disfuncionais e auxiliar no planejamento das intervenções, ambas são de fundamental importância para o trabalho do psicólogo e são de grande utilidade para sociedade, cada uma com seus recursos e técnicas.
Por José Magnos (link bio), diretor e psicólogo da Aelius.