Atendimento Psicopedagógico para quê?

14 de junho de 2018
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Muitos pais, orientados pela escola, chegam até nós querendo saber: o que psicopedagogo faz exatamente? Por que meu filho precisa de um? Para quê? O que está acontecendo? São muitas interrogações.

O que vemos é que, assim como no século XIX, quando os pais levavam as crianças com problemas de aprendizagem aos médicos, atualmente, a primeira atitude da família, preocupada com as dificuldades que o filho está apresentando na escola, é levá-lo a uma consulta médica.

É claro que não podemos desvalorizar a importância de consultas pediátricas regulares e da realização de exames fundamentais como de visão e audição, a fim de se descartar problemas nestas áreas, que, com certeza, trariam consequências para a aprendizagem. Contudo, infelizmente, vários pais, ainda, esperam alguns anos escolares para nos procurar, ampliando, com isso, os entraves na aprendizagem dos filhos.

Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em 1946. Inicialmente, de natureza médico-pedagógica, faziam parte da equipe: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos. Esta experiência europeia influenciou substancialmente a Argentina, que por sua vez, inspirou a práxis brasileira, iniciada na década de 70.

Segundo Visca, a Psicopedagogia nasceu como uma atividade empírica, subsidiada pela Medicina e Psicologia, devido à necessidade de atender crianças com dificuldades de aprendizagem. Posteriormente, formou-se como um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de estudo, denominado de processo de aprendizagem, e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios.

A Psicopedagogia, portanto, é um ramo de conhecimento de caráter inter e transdisciplinar que se dedica ao processo de aprendizagem humana levando em consideração o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando métodos, procedimentos e recursos específicos, fundamentados em diferentes referenciais teóricos. De acordo com a Associação Brasileira de Psicopedagogia, o objetivo da área é promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de inclusão escolar e social; compreender e propor ações frente às dificuldades de aprendizagem; mediar conflitos relacionados aos processos de aprendizagem; articular a ação psicopedagógica com profissionais de áreas afins, para atuar em diferentes ambientes de aprendizagem. Desse modo, conforme afirma Rubinstein, a prática Psicopedagógica vem delineando duas formas básicas de atuação: a clínica, mais voltada para a terapêutica (recuperação), e a institucional, mais dedicada à prevenção, como já vemos, nos dias de hoje, em escolas, empresas e hospitais.

Como o conhecimento é adquirido continuamente, pelo sujeito- aprendente, não só no ambiente escolar, mas no decurso da vida, a Psicopedagogia pode auxiliar em vários âmbitos de aprendizagem e em diversas áreas da atividade humana. Lembrando que, como declara Paín, existem dois tipos de condições para a aprendizagem: as externas, que definem o campo do estímulo, e as internas que definem o sujeito.

Dentre os procedimentos que utilizamos na prática clínica psicopedagógica estão a avaliação e a intervenção psicopedagógicas. A primeira, realizada em, no mínimo, oito sessões, destina-se à investigação dos obstáculos e queixas que se apresentam nos sujeitos com dificuldades de aprendizagem e o impedem de crescer na aprendizagem no nível previsto pelo meio social. Os obstáculos manifestam-se por meio de sintomas tais como: baixo rendimento escolar, falta de concentração, agitação, agressividade, ansiedade, entre outros. Ao término da avaliação, o terapeuta compartilhará com os pais ou responsáveis o informe psicopedagógico que tem por finalidade resumir as conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas que motivaram o diagnóstico. A segunda, a intervenção psicopedagógica, atua diretamente nos problemas detectados na avaliação realizada. Após a devolutiva aos pais, paciente e escola com a entrega do informe psicopedagógico e orientações para condução da aprendizagem na família e na escola, fazemos um plano ou programa de intervenção, com o objetivo de organizar as ações remediativas.

Na intervenção, o psicopedagogo dará suporte ao aluno-paciente por meio de mediações planejadas e estratégias remediadoras, de acordo com as necessidades, conduzindo-o ao conhecimento das habilidades, capacidades e formas de aprender. Fará uso de jogos educativos, tecnológicos, vídeos, brincadeiras, desenhos, construções, confecções, músicas, atividades psicomotoras, que permearão as áreas de alfabetização, leitura, linguagem, escrita, ortografia, matemática, estimulação cognitiva, facilitando o processo de aprendizagem do aprendente. Vale lembrar que a tarefa diagnóstica não termina com o relatório psicopedagógico. Na verdade, ela consiste em processo contínuo, pois a investigação das causas das dificuldades prossegue durante todo o trabalho de intervenção. Portanto, como enfatiza Weiss, o atendimento psicopedagógico possibilitará a intervenção direta e o apoio permanente para possíveis mudanças de conduta do aluno-paciente. Com a família e a escola realizamos uma troca contínua com a orientação possível.

Finalizando, gostaria de tranquilizar a família e o paciente que se encontram ansiosos e preocupados com a situação vivenciada, no momento, enfatizando que terão o apoio e as orientações necessárias para que os obstáculos à aprendizagem sejam superados, observando-se as características individuais. Saliento, ainda, que atuamos de forma multidisciplinar porque acreditamos na formação integral do ser humano visando ao desenvolvimento pleno de suas potencialidades. Portanto, a atuação psicopedagógica é permeada por um trabalho de equipe, com profissionais das áreas de Psicologia, Fonoaudiologia, Psicomotricidade e Pedagogia.

Por Gisele Junker

Referências:
– ABPp – Código de Ética do Psicopedagogo.
– FERNÁNDEZ, Alícia. A inteligência aprisionada – abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Artes Médicas, 1991.
– PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Artes Médicas, 1985.
-PORTO, Olívia. Bases da Psicopedagogia – Diagnóstico e intervenção nos problemas de aprendizagem. Wak, 2011.
– SAMPAIO, Simaia. Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico. Wak, 2014.
– SCOZ, Beatriz J. L. et al. Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Artes Médicas, 1990.
– VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.
-WEISS, Maria Lucia Lemme. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Lamparina, 2012.

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